terça-feira, 15 de junho de 2010

sobre o amarelo. parte II - De Mayara Constantino

eles então se esbaldaram naquele jardim já citado.
- vamos embora?
- aham...
- ué? vem!
- eu não consigo.
- mas eu consigo, e você não?
- pois é!
- você quer ficar, é isso?
- pode ser. e você?
- então eu fico.
- mas o que você queria fazer?
- eu queria água.
- hum, então vai. vai beber sua água.
- não, eu fico.
- eu não sei o motivo, mas estou sem sede. sem sede alguma.
- você é estranha, estou com muita sede. sabe quando você bebe água e sente ela descer pela sua garganta? sabe? como se uma correnteza fosse deságuar nos caminhos do seu corpo? é uma sensação realmente aliviante.
- aliviante?
- é.
- aliviante existe? ou você inventou?
-claro que existe, de alívio.
- eu não quero o alívio, ainda.
- eu quero, e quero dilúvio.
- você quer muito.
- eu quero...
- engraçado... cada um quer ir pra um lado.
- mas eu to aqui com você.
- mas eu quero alguém que não consiga sair daqui, eu quero alguém que grude.
- entendo.
- então vá!
- eu só vou buscar água, é rápido. você também quer?
- eu não quero. ah, e quando você voltar serei outra.
- então terá sede?
- não!
- eu volto.
- e eu fico.

ele foi. ela chamou:

- ei, me beija?

pausa (o beijo é a pausa)

- você mudou de cor.
- eu sei. mas não sou outra, continuo doce, grude, amarela. você vai voltar?
- volto. mas volto com água pra mim, e pra você... um quindim. o que acha?
- então eu acho que você já é outro.

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